“Esse livro revela muitas técnicas de fraude usadas pelos médiuns, e faz uma ótima análise das pesquisas realizadas nos primórdios da metapsíquica. Infelizmente muitas vezes o livro sofre com a falta de referências para o que o autor diz, e há pelo menos dois erros de impressão no livro que tornam alguns trechos ininteligíveis. Talvez esses erros não existam em edições passadas e possam ser sanados, entretanto. Agradeço quem tiver versões mais antigas do livro e puder verificar e me informar. Quem quiser baixar a versão em doc, clique aqui. Quem quiser baixar a versão em pdf, clique aqui. Abaixo segue o capítulo que considero o mais importantes do livro, o 19º. Mas muitos outros capítulos trazem revelações surpreendentes também.
O MÉDIUM LADISLAU LASZLO teve em Budapeste, durante dois anos, um sucesso imenso, graças às materializações que realizava e que foram verificadas por grande número de médicos e pessoas cultas. Inicialmente, a atenção pública convergiu sobre ele pelo fato de ter assassinado a própria noiva, fazendo-a vir a um hotel, onde, abraçando-a, lhe deu um tiro de revólver pelas costas, que lhe produziu morte imediata. Mas a bala, atravessando-lhe o peito e o coração, foi alojar-se no tórax do próprio Laszlo que, abraçado à noiva, ficou gravemente ferido. Ele atribuiu o ato ao seu segundo eu, que o dominou de maneira demoníaca, obrigando-o à execução daquele ato. Depois de submetido a julgamento, tendo sido absolvido, entregou-se à prática intensiva do espiritismo, sobretudo como objeto de investigação numa Sociedade de estudos metapsíquicos, formada principalmente de médicos e professores da Universidade. O médium apresentava materializações que lhe saíam pela boca e tomavam formas do corpo humano, cuja realidade supranormal pôde ser demonstrada por meio de numerosas verificações. Basta dizer que ele antes de entrar para a cabine, era completamente despido, sendo examinado rigorosamente, mesmo quanto à cavidade bucal e o interior do reto. Além disso, chegou a ser posto em custódia permanente, sendo observado ininterruptamente por pessoas garantidas, que se revezavam, sobretudo quando lhe deram um purgante para esvaziar o intestino, seguido de uma lavagem do estômago, a fim de ficar suficientemente autenticada a realidade mediunística das suas materializações. Pois bem, depois de tudo isso ter sido bem verificado e, portanto, demonstrado o seu poder sobrenatural, ocorreu qualquer coisa de horrivelmente banal. Alguém propôs ao médium um negócio tentador, que ele logo aceitou com entusiasmo: uma viagem pelo continente, financiada por um grupo de comerciantes, durante a qual demonstraria as suas faculdades sobrenaturais. Tornava-se, porém, necessário dar primeiramente uma sessão privada aos financiadores da empresa, a fim de eles próprios se darem conta da situação. Laszlo não teve dúvidas e, logo de início, revelou ao companheiro que tudo aquilo não passava de truques e mistificações, naturalmente muito apropriadas para se ganhar dinheiro. A sessão realizou-se como estava combinado, ninguém devendo tocar no ectoplasma, pois poderia isso ocasionar a morte súbita do médium. Nessas condições, “sob a intensa emoção dos espectadores, que batiam dentes e sentiam arrepios de angústia”, formou-se o ectoplasma, com a materialização de três dedos da mão. Nesse momento, o companheiro da proposta, Eugen Schenk, lançou-se sobre Laszlo e arrancou-lhe da boca, enquanto ele gritava como um desesperado, aquela substância misteriosa e que devia ser sobrenatural. Mas era tudo que havia de mais vulgar e material: um pedaço de gaze impregnado de gordura de ganso! Assim, acabaram-se os mistérios e desapareceram os espíritos! Os truques que Laszlo empregava para ludibriar as suas vítimas se tornaram conhecidos, sendo que a habilidade desenvolvida para realizar os seus intentos constituía a parte mais extraordinária da representação. Apesar de todo o controle, encontrava sempre maneira de esconder o material que usava em suas mistificações. Em geral, ocultava-o no reto, bem alto, para não ser encontrado pelo toque digital do exame médico. Mesmo quando tomou óleo de rícino, sendo acompanhado até nos momentos em que ia à privada, conseguiu disfarçá-lo para o usar no momento adequado. Outras vezes, ocultava-o previamente no sofá, nas cortinas, ou em outros lugares do local escolhido, sendo que os próprios fiscais e observadores das sessões eram aproveitados para transporte desse material, sem que o soubessem. Laszlo fazia-o de modo que o bolso da pessoa escolhida, onde ocultava tal material, ficava sempre facilmente acessível às suas mãos.
O caso de Laszlo apresenta ainda uma particularidade surpreendente: a do auxílio que recebia de três pessoas de categoria e que se estava longe de desconfiar pudessem tomar parte nas suas manobras fraudulentas: um médico, um juiz criminal e um artista pintor! Era o mesmo que já havia ocorrido com o professor Bianchi que, numa sessão realizada por Eusápia, em presença de Lombroso, ajudou a médium, assim como com o médium Sambor, que foi auxiliado por um homem considerado de caráter, ao mesmo tempo pintor e escritor e que, durante uma dezena de anos, tomou parte ativa e passiva nas trapaças de diversos médiuns. Klinckowstroem chama a atenção para essa eventualidade, mostrando que os casos em questão ainda prosseguiram sendo explorados por ocultistas, caso os parceiros tivessem sido mais hábeis e cautelosos. Aliás, tal possibilidade é muito mais freqüente do que se acredita, como é fácil verificar dando maior atenção aos auxiliares dos médiuns, em geral, pessoas de presença obrigatória às sessões.
O que há de grave no caso de Laszlo é a convicção de grande número de homens de ciência que acreditavam na autenticidade daqueles fenômenos, cuja origem era tomada como sobrenatural. Era mais uma vez a repetição do que havia acontecido inúmeras outras, sem que fossem tiradas as conclusões e os ensinamentos que daí deviam resultar. Pelo contrário: tudo serviu para reforçar crenças e suposições, penetrando até no domínio da filosofia, como nos casos de Hans Driesch e T. K. Oesterreich, professores de filosofia de Universidades alemãs, que procuraram servir-se de manifestações daquele gênero como elementos fundamentais de seus sistemas filosóficos. No entanto, o que tem acontecido invariavelmente em todos esses casos é de tudo acabar em trapaças e mistificações, não raro executadas com alta técnica de prestidigitação e surpreendente credulidade dos circunstantes. Miller, que se tornou célebre fazendo aparecer diversos fantasmas ao mesmo tempo e deixando-se tocar pelas pessoas presentes, foi surpreendido em fraude, porque se tornou negligente nas suas manobras, tal a confiança que tinha na boa fé e na ingenuidade das pessoas presentes. Os jornais espíritas, que o haviam glorificado ao extremo, tiveram de calar-se ou reconhecer o erro, como tem acontecido em muitos casos semelhantes.
Quando Eusápia, no Instituto Psicológico de Paris, conseguia fazer abaixar um pesa-cartas sem tocá-lo, mesmo à distância, um dos assistentes enegreceu com fuligem a concha, o braço e o indicador da balança, desconfiando que o processo pudesse ser executado por meio de um longo fio de cabelo que, nesse caso, produziria uma marca qualquer na fuligem. O que aconteceu é que todas as experiências posteriores falharam, não podendo mais Eusápia agir sobre o pesa-cartas, “nem uma única vez”! Com Max Dessoir falhou também experiência semelhante, que consistia em fazer a médium mover sobre a mesa um simples fósforo, sem tocá-lo. Aliás, nesse sentido, foi estabelecido um prêmio de dois mil francos para o médium que conseguisse deslocar qualquer objeto, sem tocá-lo. A experiência, que foi largamente divulgada pelo “Matin”, jornal de grande tiragem de Paris, tendo repercussão pelo mundo inteiro, devia ser realizada no laboratório do professor Dastre, na Sorbonne, mas não apareceu ninguém para submeter-se à prova! Isso foi considerado tanto mais estranho quanto, naquele momento, apareciam comunicações sobre médiuns que faziam elevar no ar, sem tocá-los, móveis e objetos pesando até centenas de quilos, levando diversos sábios a falar de levitação como de qualquer coisa já cientificamente demonstrada. Quando D’Arsonval recebia ordem de Eusápia para levantar uma pequena mesa, fazia-o facilmente, embora, pouco depois, por ordem inversa, não conseguisse mais fazê-lo, pois “a mesa parecia pregada no chão”. Em breve, alguns observadores verificaram que o peso do médium colocado sobre uma balança variava segundo a posição dos objetos que ele punha em movimento em torno de si, tudo de acordo com as leis de física, pois havia diminuição de peso do seu corpo quando se apoiava sobre eles e aumento quando era ele que servia de ponto de apoio. Quando o médium perdia contato com o chão não conseguia produzir mais fenômenos de levitação! Crookes estudou o fenômeno com aparelhos de física, servindo-se do célebre médium Daniel Home, que conseguia alterar o peso do corpo e tocar instrumentos musicais à distância. Os relatórios são impressionantes, porém, mais tarde, descobriu-se que Home, à maneira do que tem acontecido com todos os médiuns célebres, havia cometido toda espécie de truques e mistificações.
“Para fazer-se uma mesa levantar-se no ar por alguns segundos, são necessárias manobras especiais, sobretudo a de dar-lhe um certo movimento, capaz de fazer mudar rapidamente o seu centro de gravidade, como usam os saltimbancos em suas exibições. Além disso, pode-se ajudar com o calcanhar ou cordões finos, quando a iluminação é pouca intensa. No livro “Around the World with a Magicien and a Jugger”, encontra-se a fotografia de uma mesa no ar e, na figura, não se percebe como pode ter sido isso obtido”.
Uma mesa de pouco peso pode ser levantada por meio de um anel tendo uma pequena fenda. Para isso, o médium enterra um percevejo na mesa, que, tendo a mesma côr do móvel, passe despercebido aos espectadores. Depois, nele engancha o anel e, assim, levanta a mesa, tendo sobre ela as mãos espalmadas. Também, por meio de um anel, tendo um gancho em forma de U e pintado da mesma côr da pele, torna-se possível, enganchando-o na tábua da mesa, levantá-la, mesmo em plena luz, diante do olhar perplexo dos espectadores. O mesmo pode ser feito pelo emprego de um fio resistente e bem fino que o mágico ou o médium faz passar por baixo do móvel ou põe em contato com outros objetos, conseguindo deslocá-los ou levantá-los. O fio comumente empregado deve ser bastante longo, de aproximadamente meio metro de comprimento, e possuir alças largas nas extremidades, para nelas poder o operador facilmente introduzir os dedos, executando movimentos de grande extensão. Um fio de cabelo passa despercebido a cinquenta centímetros de distância e, em muitos casos, a manobra é executada por um auxiliar, que a torna assim mais segura e impressionante.
Uma vez, pegou-se Eusápia servindo-se de uma flor com longa haste, por meio da qual produzia singulares manifestações de telecinesia. Na residência de Gustave Le Bon, em Paris, viu-se por diversas vezes, em quase plena claridade, aparecer uma mão acima da cabeça dessa médium. Mas, observando as suas espáduas por meio de uma iluminação lateral, que ela não podia perceber, verificou-se que as mãos materializadas eram as da própria médium, que conseguia libertar-se do controle dos observadores, sendo os movimentos das suas mãos conjugados com os dos seus ombros. Quando ela se deu conta dessa verificação, imediatamente deixou de se operar a materialização das mãos. D’Arsonval e Dastre, naquela ocasião, chegaram à conclusão de que todos os movimentos e materializações não passavam de fraudes e acrobacias. O Instituto Psicológico de Paris, por sua vez, não conseguiu observar caso algum em que a fraude não representasse qualquer papel. Com Eusápia aconteceu de, por mais de uma vez, segurarem-lhe a mão ou o pé quando, à distância, realizava contatos de além túmulo. Albert Moll, numa sessão espírita, na qual a gaveta de uma mesa se abriu espontaneamente diversas vezes por influência de forças mediúnicas, conseguiu pegar o pé da médium no momento em que executava a manobra, metendo-o na fenda, atrás da gaveta. Quando, em situação idêntica, Dessoir conseguiu pegar o pé de uma médium, calçado de meia, já tinham os seus companheiros de sessão percebido contatos, que atribuíam uns a punhos de gigante, outros a mãos de criança, terceiros a cabeças de cachorro, etc. O emprego do pé, pelos médiuns, é tão frequente que um ator descobriu ser hábito de quase todos eles usar sapatos muito folgados. Não é por outra razão que os tecidos para materialização são muito finos, do tipo da gaze e da musselina, sempre vaporosos, de volume mínimo, ocupando espaço insignificante. Basta dizer que um pedaço desse tecido, que pode ser colocado no ouvido ou mesmo na cavidade de um dente, fornece material capaz de tomar enormes proporções. Um autor fala de um tecido oriental, do qual um centímetro cúbico dava um balão de cinco metros de diâmetro.
Não é também por simples coincidência que quase todos os médiuns dados a materializações são mulheres, muitas das quais trabalham de preferência no período da menstruação. Nessas condições, o transporte dc material é mais fácil e garantido, uma vez que os processos de controle não podem ser tão rigorosos. De qualquer modo, investigadores científicos têm se queixado de que, na troca de roupa, sempre necessária à boa verificação, há lugar para fraude, porque, em se tratando de mulher, quando muito ocorre troca de combinação, sob a qual podem estar ocultas outras coisas, por vezes coladas ao corpo ou escondidas nas suas cavidades. Recordemos a história burlesca de Ejner Nielsen, cognominado o grande Nielsen, médium norueguês, célebre, sobretudo, pelos fenômenos de materialização, cuja autenticidade foi objeto de investigação por parte de diversos cientistas. As primeiras experiências foram realizadas na Universidade de Cristiania por uma comissão de professores eminentes, designados pelo Reitor da Universidade, por solicitação da Sociedade Norueguesa de Pesquisas Psíquicas. Essa comissão chamou a atenção para as dificuldades de controle, mostrando ser necessário examinar a fundo o médium, desde a boca, o nariz e a garganta, até o estômago, o ânus e o reto. E isso conscientemente, em todas as sessões, porque ele, cada vez, se punha ao corrente da verificação, encontrando novos recursos para burlá-la. No caso em questão, ficou evidente que as condições das experiências eram estabelecidas pelo próprio médium e os seus auxiliares, o que naturalmente facilitava as fraudes. Nielsen trocava a roupa por um maillot que, por segurança, era justo e cosido ao corpo, sendo-lhe examinada a boca, o nariz e a garganta, mas não o reto, por sua expressa proibição. Pois bem, numa das últimas sessões realizadas por essa comissão, encontrou-se um pequeno furo no maillot e, em torno dele, assim como em diversos lugares do corpo do médium, pequenas porções de matéria fecal. Foi, aliás, somente nessa sessão que houve aparecimento de ectoplasma, fotografado pela comissão, mas que, seguramente, provinha do material guardado no reto. O médium conseguiu, sem dúvida alguma, libertar uma das mãos para executar a manobra necessária, isto é, levar à boca o que estava oculto no ânus, a fim de produzir as materializações que lhe escapavam da cavidade bucal. O processo de ocultar objetos introduzindo-os no reto tem dado lugar a manobras fraudulentas, que às vezes não são descobertas mesmo quando se faz o exame digital ou retoscópico desse órgão. São conhecidos casos de forçados que têm conseguido levar até o cólon transverso cilindros de extremidades cônicas contendo objetos de valor e que, introduzidos pelo ânus, são conduzidos por manobras externas, feitas com as mãos, até àquela porção do intestino.
A regurgitação vinda do estômago é fenômeno conhecido de há séculos, tendo recebido em medicina a denominação de mericismo, vinda dum verbo grego que significa ruminar. Por vezes, essa faculdade atinge tal grau, que o seu possuidor chega a explorá-la em exibições públicas, para ganhar dinheiro. Eu próprio tive ocasião de ver um indivíduo dessa classe, que se apresentava em teatros de variedades. Ele vinha à cena com um aquário contendo peixes vermelhos e rãs e, diante dos olhos do público, engolia todos aqueles animais, um a um, e bebia toda a água do aquário, que não era muito pequeno. Depois, fazia subir à boca os animais, também um a um, lentamente, a conversar e sorrir, para preencher o tempo do seu número. E executava tudo isso até com graça e elegância, aparecendo-lhe por exemplo, entre os lábios, a perna de uma rã, por onde pegava o animal, colocando-o no aquário e, assim sucessivamente com as outras e, finalmente, com os peixes. Por fim, a água era esguichada, de longe, como um repuxo, até encher o vaso, onde de novo os animais nadavam calmamente. Interessante é que ele os repunha na mesma ordem daquela em que haviam sido ingeridos. Se a ingestão havia sido iniciada pelas rãs e terminada pelos peixes, eram elas que, pela regurgitação, apareciam em primeiro lugar.
No caso já citado do norueguês Nielsen, antes de ser ele desmascarado, um engenheiro de Berlim, que possuía esplêndido laboratório de pesquisa, chegou à conclusão de que o ectoplasma fornecido pelo médium era autêntico e que os resultados falsos eram obra dos próprios médicos que o observavam! Muito interessante é o fato de Nielsen posuir um dente de ouro que aparecia regularmente nas materializações, assim como também o seu nariz, fácil de reconhecer, apesar dos disfarces. Quando as suas materializações saíam do gabinete, foi possível reconhecer, sob os véus ideoplásticos, as mangas arregaçadas da sua camisa! Depois de tudo isso, é compreensível o ridículo em que caiu esse médium, que recebeu o epíteto de rei de materializações anais, com auréola de martírio…
Por várias vezes, já tem sido chamada a atenção para um fato que se repete em muitas dessas situações: o do médium experimentar com os sábios e não estes com ele, uma vez que as condições das experiências são determinadas pelo médium. Um exemplo muito ilustrativo foi fornecido por Willy Schneider já anteriormente analisado e que recusou a proposta do professor Siegfried Becher, que quis protegê-lo da luz pelo emprego de óculos amarelos, iluminando a sala com luz ultravioleta monocromática. Dessa maneira, o médium ficaria mergulhado em escuridão completa, não sendo incomodado pela luz, que pretendidamente representa grande estorvo para ele, capaz de impossibilitar o aparecimento de manifestações sobrenaturais. Aliás, as verificações habitualmente empregadas estão longe de corresponder ao que poderia ser estabelecido por médicos especialistas ou mesmo guardas de alfândega quando suspeitam contrabando. Algumas vezes têm sido encontrados médiuns usando calçado de sola e salto ocos; outros munidos de fios, barbatanas e até pinças que se desdobram tais como as usadas por gatunos para apanhar objetos ao longe, tudo isso sem contar guitarras, luvas fosforescentes, apetrechos de papelão negro, mesas e cadeiras especialmente construídas, etc.
Franck-Kluski é o pseudônimo de um escritor polonês, que se tornou médium famoso. As suas produções foram estudadas no Instituto Metapsíquico de Paris pelo seu diretor, o doutor G. Geley. Kluski produzia sobretudo fenômenos luminosos, materializações em parafina e gesso, especialmente de membros. Paul Heuzé assistiu a uma sessão desse médium em Varsóvia e, para corresponder ao pedido de um compatriota, solicitou a Kluski para materializar uma fisionomia. O médium mostrou-se irritado, mas prometeu fazê-lo. Quando tudo ficou às escuras, ouviu-se barulho no vaso de parafina líquida, onde se verificou depois, em vez de fisionomia, uma modelagem de nádegas respeitáveis. Heuzé achou-as idênticas às de Kluski, mas no protocolo da sessão são dados como sendo de uma velha, enquanto um diplomata presente as comparou às de uma criança! Se essa divergência de opinião já é extraordinária, tratando-se de um modelo sólido e bem fixado, maior deve ser a surpresa ao saber-se que Geley atribuiu essa formação a forças metapsíquicas, a uma manifestação ideoplástica, graças à presença de poderes inteligentes na sessão! Tudo isso apesar de haver o próprio Geley declarado que o médium sofrera uma profunda queimadura nas nádegas, que o fez sofrer durante muitos dias!
Nas moldagens mediúnicas, informa-nos Richet, “distinge-se muitas vezes o delineamento de um tecido de gaze lizeira, que protegeria os dedos e o rosto do médium contra o contato direto da argila ou do mastique. Não se pode ver aí uma objeção. Pelo contrário: é antes uma prova de autenticidade das experiências, porque a materialização de tecidos inertes acompanha sempre a materialização de tecidos vivos”. E conclui ingenuamente: “Depois: como manejar e fazer desaparecer essa gaze nas condições de controle experimental rigoroso que se conhece?”
Outro caso que teve grande repercussão foi o de Jean Guzig, célebre médium polonês especializado na produção de manifestações físicas. O doutor Geley foi observá-lo em Varsóvia e obteve tais resultados que o fez vir a Paris, onde permaneceu durante muitos meses, sendo objeto de investigações em seu Instituto. Nessa ocasião, assistiam às sessões grande número de pessoas eminentes, entre as quais Oliver Lodge, Charles Richet, C. Flammarion, os professores Leclainche e Vallée e diversas outras. Foi daí que partiu o célebre “Manifesto dos Trinta e Quatro”, publicado no jornal “Le Matin” e que produziu grande sensação, pois concluía pela veracidade dos fenômenos observados: “Afirmamos simplesmente a nossa convicção de que os fenômenos obtidos com Guzig não são explicáveis nem por ilusões ou alucinações individuais ou coletivas, nem por uma fraude qualquer.” E, diante disso, acrescentava: “II marquera une date capitale dans l’histoire de la métapsychique”. Mas, quando Guzig foi posto sob controle de uma comissão de sábios da Sorbonne, formada pelo físico Langevin, o biologista Rabaud, o fisiologista Laugier, o físico-químico Marcelin e J. Meyerson, diretor do Laboratório de Psicologia fisiológica da Sorbonne, as sessões deram somente resultados negativos, deixando de aparecer qualquer manifestação mediúnica. A prova consistiu em pôr sob controle automático as pernas do médium, cujos movimentos não poderiam escapar aos observadores. Isso veio confirmar a denúncia de Max Dessoir que, já anteriormente, havia conseguido pegar o pé do médium, quando executava movimentos telequinéticos por meio dele. Contra as conclusões da Sorbonne foram levantados protestos sob pretexto de estarem baseadas em indícios e não em provas concretas. Mas, depois, em outros centros, puderam ser demonstradas fraudes, até por meio de fotografias. Verificou-se, por exemplo, que um fio elétrico, afastado da cadeira de Guzig e que servia para dar sinais, foi encontrado fora do lugar ao alcance da sua mão. De outra vez, a fotografia pelo magnésio mostrou que ele havia libertado uma das mãos, apesar de continuar fechada sobre a mesa a cadeia formada pelos presentes. Aliás, já se sabia que segurar as mãos do médium, no escuro, de nada vale, como estava demonstrado por numerosas obervações.
Um desmascaramento do espiritismo que teve grande repercussão foi o ocorrido em Nantes, na França, onde foram vítimas de espancamento dois jornalistas de Paris, que escaparam de ser mortos dentro da sala das sessões. Tratava-se de um jardineiro boçal, transformado em médium e que, há diversos anos, vinha produzindo fenômenos impressionantes, observados até por pessoas vindas especialmente do estrangeiro, de terras longínquas. Nas sessões, apareciam Napoleão, Joana d’Arc, o próprio Jesus Cristo! Tudo se realizava a portas fechadas, somente com a presença de pessoas garantidas, crentes no espiritismo. Os dois jornalistas serviram-se de convites para outras pessoas e, assim, puderam assistir a uma sessão. Tudo ocorria como nas sessões espíritas habituais. Da cabine do médium partiam gemidos de sofrimento e, logo depois, abriu-se a cortina e surgiu um espírito envolto em véus brancos, tendo o rosto coberto de preto. Uma senhora presente reconheceu a sua filha morta e houve uma cena patética. Num dos movimentos do fantasma, os jornalistas perceberam, atrás dos véus, algo das calças e dos suspensórios do jardineiro. Um deles agarrou-o pelo braço, que era musculoso, de trabalhador, enquanto o outro arrancava-lhe o disfarce, iluminando a ridícula cena com poderosas lanternas de bolso. Aí, a dirigente da sessão gritou que os prendessem, que não os deixassem sair. E, assim, iniciou-se a pancadaria sob os gritos: “À morte, os espiões! matemo-los, furemo-lhes os olhos!”. E foi com dificuldade que escaparam com vida! Os agressores negaram os fatos e, por isso, não houve processo-crime. Por fim, os jornais espíritas ajeitaram a questão à sua moda, até levantando-se contra o Instituto Metapsíquico de Paris, ao qual pertencia um dos agredidos, Charles Quartier, redator da Revista daquele Instituto. E parece que as sessões prosseguiram, tudo como antes do desmascaramento.
Outro caso que teve grande repercussão foi o dos médiuns Thompson, marido e mulher, célebres pelo seu poder de materializações e cujo desmascaramento ocorreu dias depois de haverem realizado uma sessão cheia de sucessos extraordinários, na qual foi materializada a mãe de Arthur Conan Doyle, já falecida. Ela saiu da cabine para saudar o filho que estava presente e lhe beijou a mão, dirigindo-lhe palavras afetuosas. Três dias depois, realizou-se a sessão, a que assistiram um detetive e um policial de Nova Iorque, sendo os resultados publicados no New-York Sunday American de 3 de setembro de 1922, sob o título: “Como os médiuns fizeram aparecer a mãe morta de Sir Conan Doyle”. A notícia era da autoria do Dr. Leonard Hartman, em cuja casa houve a sessão. O policial pediu que Eva Thompson materializasse uma imaginária “Tia Ema” ao que ela aquiesceu, mas o que apresentou foi tão pouco convincente que os representantes da lei não tiveram dúvida em saltar sobre o médium e o seu fantasma. Enquanto um se apoderava deste, era aquele seguro pelo outro. Quando se acenderam as lâmpadas, foram vistos todos os acessórios usados pelo médium. Além dos seus próprios vestuários, foram encontrados em poder do médium uma roupa de seda preta com que simulava trajes de homem, alguns botões fosforescentes para produzir fulgurações “espíritas”, uma trombeta e um “piano espírita”, pretendidamente tocado por mãos sobrenaturais, mas que, na realidade, se movia por um mecanismo, ao qual se dava corda. Os Thompson foram processados e cada um deles condenados a 10 dollars de multa. É de vantagem acrescentar que o autor do artigo em questão, L. Hartman, era presidente da Primeira Igreja Espírita de Nova Iorque. O nome de Conan Doyle foi, naquela ocasião, explorado pela imprensa americana de maneira pouco favorável, sobretudo em relação à sua obra “A Vinda das Fadas”, de fundo espírita e cheio de fragrantes incongruências.
Haraldur Nielsson, num livro sobre espiritualismo experimental, revela coisas espantosas obtidas com um médium extraordinário, Indridason, que se elevava com a poltrona até o teto, materializava vozes diferentes e que eram ouvidas ao mesmo tempo e, certa vez, conseguiu desmaterializar um dos seus próprios braços, que desapareceu do corpo, como foi verificado pelos circunstantes. É verdade que tudo isso, como era de esperar, se realizava no escuro, tendo ele se recusado a tirar a camisa para que pudessem examinar o ombro, sem o braço! O autor diz textualmente: “O braço esquerdo do médium foi completamente desmaterializado. O braço desapareceu completamente e foi impossível encontrá-lo, apesar de termos feito luz na sala e examinado minuciosamente o médium. Na última noite, foram designadas sete pessoas para verificar esse fenômeno. Fizeram luz em torno do médium, mas a manga estava vazia, como anteriormente. Foi permitido apalpar em redor do ombro, mas o médium não autorizou que o desvestissem”. O autor do livro é professor de teologia na Universidade de Islândia e Charles Quartier, que o comenta, diz que ele não deve ter percebido as dificuldades do problema, talvez pelo fato da sua educação não ter sido orientada na direção da pesquisa científica.
Um outro desmascaramento, dos mais extravagantes na história do espiritismo, foi o de Charles Eldred, o médium de Nottingham, suspeito por trazer sempre para a sessões uma cadeira da sua propriedade e com a qual foi apanhado em flagrante de fraude. Descobriu-se na cadeira um compartimento secreto, disfarçado no encosto e no qual foram encontrados: um manequim que se podia dobrar, feito de setineta cor de rosa; uma máscara cor de carne; doze metros de seda chinesa branca; dois pedaços de pano fino de cor preta; três bolsas de cores diferentes; duas perucas, sendo uma branca e uma cinzenta; um cabide para suspender os panos, e assim, simular outra pessoa; uma lâmpada elétrica com 4 metros de fio e um interruptor para produzir clarões e luminosidades espíritas; um vidro de perfume; alfinetes, etc. Tudo foi publicado com fotografias, mas isso não impediu Eldred de prosseguir em suas atividades. Harry Price fornece essas informações, no volume 26 do periódico “Light”, onde descreve outros casos idênticos, terminando por repetir a frase de Barnum: “Graças a Deus, também existem tais pessoas”! Harry Price fala ainda de uma sessão paga, a que assistiu, na qual o médium produzia fenômenos fosforescentes por meio de um composto de óleo fosforado. Mas, ao iniciar a sessão, teve a infelicidade de quebrar o vidro do líquido, colocado no bolso traseiro da calça. O resultado foi o médium, ao levantar-se da cadeira, deixar sobre a mesma uma imagem fosforescente semelhante a uma lua cheia e que correspondia ao fundilho das suas calças.
Harold Evans é outro médium que desencadeou grande ruído em torno dos seus poderes sobrenaturais. Chegou a ser cognominado na Inglaterra de “formidável Evans”, tal a beleza e perfeição das suas materializações. Ele declarava que os desencarnados tiravam do seu corpo a substância ectoplasmática, graças à qual conseguiam aparecer às pessoas presentes. As suas próprias roupas estragavam-se rapidamente devido aos processos de desmaterialização que sofriam. E pedia que o examinassem minuciosamente, que verificassem nada haver de suspeito. Depois disso, era amarrado numa cadeira, rigorosamente, a fundo. Aí, começavam então as manifestações extraordinárias: toques de campainha, sons de instrumentos musicais, manchas luminosas que apareciam e se transformavam em espíritos, cujo aspecto era variável, diferindo de um para outro. O mais impressionante era o de Santa Catarina, moça, linda, como no célebre quadro de Veneto. Ela tocava as pessoas presentes, abençoava-as, escrevia mensagens consoladoras. O “Sunday Chronicle” havia organizado uma comissão para estudar poderes de médiuns, da qual faziam parte Sir W. Arbuthnot Lane, o célebre cirurgião; o professor Julian Huxley, biologista de renome; o professor A. M. Low, Aldous Huxley e Miss Tennyson Jesse, romancista; J. C. Wilson, especialista em raios X e Sir Conan Doyle. Foi uma das suas sessões que o médium foi desmascarado, ao ser surpreendido na posição mais ridícula do mundo: pés descalços, sem calça, a camisa sobre a cabeça! Era um verdadeiro homem-serpente, que se havia libertado dos amarrilhos e, depois de representar o papel de Santa Catarina, preparava-se para voltar ao seu lugar na cadeira! Tudo foi descoberto por meio de lanternas elétricas, cuja luz foi projetada sobre o médium. Relatando o acontecimento, o “Sunday Chronicle” estabeleceu um prêmio de mil libras para o médium que produzisse qualquer fenômeno de materialização, sob controle. O mesmo fora feito em 1922 pela revista americana “Scientific American”, que ofereceu um prêmio de 2500 dólares, aproximadamente 50 mil cruzeiros, para quem demonstrasse cabalmente qualquer fenômeno mediúnico. Pouco depois, “Science and Invention”, outra revista americana, estabeleceu o de 10 mil dólares, cerca de 250 mil cruzeiros, para a demonstração de ectoplasmas e materializações. Para o primeiro prêmio apareceu um único candidato e, para o segundo, nenhum. Os resultados foram negativos e a sua publicação deve ter afastado novos concorrentes. A verificação foi feita com extrema facilidade, tendo sido levadas em considerações as exigências do candidato. A prova foi feita na obscuridade, sem algemas ou outros estorvos, não tendo sido acendidas luzes subitamente nem tomadas fotografias inesperadas. O controle consistiu em sinais elétricos, invisíveis, à observação do médium, que funcionavam em compartimentos vizinhos, com marcação exata do tempo. Quando, por exemplo, o médium se levantava da cadeira, dava um passo, fazia qualquer movimento, era isso logo assinalado por lâmpadas que se acendiam, estando inclusas em circuitos pré-determinados. Dessa maneira, foi fácil verificar que todas as manifestações apresentadas pelo médium partiam de manobras por ele próprio executadas, não havendo por trás delas nada de sobrenatural. Foi certamente essa demonstração que tirou o ânimo a outros concorrentes, afastando-os de provas bem remuneradas e que poderiam ser executadas com facilidade, comodamente.”
(http://obraspsicografadas.org/2014/livro-gratuito-mistrios-e-realidades-deste-e-do-outro-mundo-por-antonio-da-silva-mello-1960/#more-1843, MELLO, Antonio da Silva, Mistérios e realidades deste e do outro mundo, 1960).