Prunus spinosa L.
A pruneira medra na beira dos bosques rochosos, beirando os caminhos situados em regiões secas, sobretudo em montanhas calcárias. Esta planta passou todo o inverno tão seca quanto um esqueleto e, tão logo tenha terminado esta estação do ano, ela começa a brilhar por cima dos seus espinhos, brilho esse devido às suas inúmeras florzinhas brancas que nos revelam que a época da ressurreição, da Páscoa não está longe (na Europa, o inverno termina numa época próxima à Páscoa). Esta neve floral se derrete rapidamente e seu doce odor é levado pelo vento. Daí então despontam minúsculos brotos que estavam profundamente escondidos nas negras cascas das árvores; milhares de pequenas folhas verdes começam a tecer um véu de um maravilhoso frescor, tal como um véu que paira em cima da árvore. Um sutil odor de amêndoa amarga emana destes jovens brotos, como se fosse um eco de floração. Esta folhagem somente irá se tornar verde no verão, e isto ocorre de maneira muito mais longa que no resto das outras árvores ou arbustos, pois é em pleno verão, quando as cerejas já estão maduras, e depois de maturação das cerejas que inicia-se a dos pêssegos, dos abricots, das amêndoas, mas isso não ocorre com o Prunus spinosa. Este arbusto deixa seus frutos irem crescendo em silêncio, em segredo, lentamente. Tais frutos, na época do verão, são pequenas bolinhas ainda verdes, de sabor terrivelmente acre. No fim do outono é que eles irão se tornar pequenas ameixinhas azuladas que constituem o material para as primeiras geleias do inverno, pois eles apenas nesta época do ano se tornam maduros e açucarados.
Tal é a “forma temporal” do Prunus spinosa. Isso nos deixa transparecer que esta planta é portadora de potentes forças vitais, mas esta planta não tem prazer de revelá-las ao exterior; ela as guarda envolvidas em uma certa “interioridade”. A vida pura e forte de sua expressão primaveril fica conservada mesmo quando as forças de dissolução do verão induzem todas as plantas aos processos centrífugos, aos processos de expansão. O Prunus spinosa resiste obstinadamente a se dispersar no cosmos, aumentando consideravelmente o tempo de maturação de seus frutos.
O fruto desta planta, quando maduro, é pouco carnudo e seu caroço é duro como uma pedra. Seu gosto acre e adstringente nos dá a ideia de algo que pode ser conservado.
Podemos compreender a atividade terapêutica do Prunus spinosa a partir de suas forças que não foram esbanjadas, a partir de tais forças que não foram utilizadas no aprimoramento de sua aparência exterior. A anomalia de seus rítmos de crescimento e de estruturação constitui a virtude medicinal desta planta. As flores do Prunus spinosa surgem a partir de uma enérgica intervenção da esfera astral, estimulam o metabolismo, aumentam as secreções, ou seja, elas ajudam o organismo humano que atravessou o inverno, a superar as tendências de endurecimento e a adquirir um metabolismo “primaveril”. O botão floral do Prunus spinosa não amadureceu na época do verão, mas no inverno. Esta estação do ano fortifica os processos neuro-sensoriais, que representam, a nível de organismo, algo de invernal. A primavera deve ser entendida como um período rítmico e o verão como um período metabólico. O remédio extraído do Prunus spinosa fará com que o organismo coordene de maneira muito melhor os processos rítmicos, e isso faz com que a atividade cardíaca seja auxiliada de maneira mais ou menos semelhantes àquela realizada pelo crataegus. Ao utilizarmos os brotos verdes, poderemos obter o remédio que estimula de maneira geral os processos etéricos, fortificando o corpo etérico. A ação dos frutos do Prunus spinosa é semelhante, mas é sobretudo dietética. Tais frutos atuam como fortificante na fadiga, na estafa, no esgotamento, auxiliando o convalescente a se restabelecer.