Meu trabalho e o que me foi mostrado
Terça feira, 05 de Outubro de 2010
Ontem, aqui na fazenda, em meio aos pinheiros de minha casa, estive pela noite toda num trabalho intenso. Eu chorei muito, verti lágrimas suficientes para encher as botinas. O Astral Superior me trouxe os registros da longa jornada que venho trilhando no bom caminho vermelho onde por muitas encarnações diversas vezes, impotente, presenciei as insanidades e desrespeitos nas atitudes do ter. Nas lágrimas silenciosas que derramei busquei manter viva minha fé e esperança.
Eu não desisti, eu nunca desisti.
Embora pequeno e sendo apenas mais um ser na evolução do espírito, tenho voltado a este mundo por encarnações tentando manifestar o espírito de decisão, integridade e vontade que formam o caráter do homem. Tentando manifestar o respeito e o amor que sinto e compartilho por toda as coisas, por isto fui criticado, agredido, tomado por diversas vezes como tolo e ingênuo ao longo de encarnações. Sempre doía e me fazia sofrer.
Mas eu não desisti, eu nunca desisti.
Vertendo lagrimas em silêncio aguardava em Wakhán Thánka um dia ter tamanho suficiente para contribuir de alguma forma, por mais singela que fosse com o que pudesse contribuir para a cura desta insanidade que assola o mundo.
Eu não desisti, eu nunca desisti.
Vivi manadas de búfalos que podiam passar por três dias e três noites e não chegarem no fim. Vivi terras livres de cercas ou fronteiras onde montes, rios e riachos delimitavam naturalmente os campos das nações irmãs. Vivi o calor do corpo do potro, vivi a brisa matutina impregnada pelo perfume dos pinheiros, vivi a presença de árvores tão lindas e altas que despontavam no horizonte como um sinal que apontava para o céu… Eu vivi.
Também vivi os irmãos búfalos serem abatidos apenas por sua língua e desaparecerem das planícies, vivi a paisagem natural ser riscadas por fios falantes mantidos em postes. Vivi os entes humanos serem dizimados e já desesperançados se matarem.
Mas eu não desisti, eu nunca desisti.
Então o Astral Superior mostrou-me a encarnação presente. Voltei novamente, estou aqui, igual a você e a outros, mas insisto em continuar a manifestar o espírito de decisão, integridade e vontade que formam o caráter dos homens, insisto em continuar a manifestar o amor e o respeito que sinto por todas as coisas. Tive a oportunidade de fazer parte de grupos isolados, que oferecem um crescimento melhor aos que já estão preparados, mas me recusei em permanecer lá. Embora me oferecessem a oportunidade de chegar “lá”, eu chegaria sozinho ou no máximo com alguns poucos. Mas e a grande parte da humanidade ainda doente de amor e vazia continuariam assim largadas? Minha escolha foi outra. Escolhi chegar “lá” levando junto de mim uma multidão. Usar do conhecimento sagrado que aprendi por vidas para rapidamente deixar preparado os que estão perdidos e aos que ainda não se encontraram, para então juntos chegarmos “lá”.
Eu não desisti, eu nunca desisti.
Formei uma grande obra da Luz na Terra. Mais uma vez presenciei homens corrompidos pelo ter, desmedidos pela ganância e desejosos de poder, chegar a mim com mentiras e más intenções na ilusão de ganharem dinheiro fácil com as bençãos que tenho a oferecer após tantas batalhas travadas. Estes ao me tomarem por tolo, ingênuo e iludido, acabaram por traírem a si mesmos. Verti lágrimas silenciosas por estes contaminados do ter que aqui foram recebidos de braços abertos, mas que devido a ganância enxergaram a ayahuasca como um meio de ganhar um dinheiro fácil, pela ganância enxergaram o amor da irmandade apenas como uma oportunidade de aplicar seus golpes… Fracassaram e se afundaram ainda mais. Verti lágrimas silenciosas por presenciar pessoas que amava andarem por um tempo na senda da luz apenas para confirmar para si mesmo que desejava a ilusão da matéria grosseira.
Mas eu não desisti, eu jamais desisti.
Tentaram tocar em meus filhos quando menores, fui ameaçado de morte por diversas vezes, num assalto mataram a minha mulher… Mais uma vez entre lágrimas silenciosas busquei em Wakan Tanka manter minha fé e esperança.
Mas eu não desisti, eu jamais desisti.
Presenciei a podridão do sistema policial onde um delegado fez enorme pressão para que eu temesse e lhe pagasse propina, mas na luz da verdade o enfrentei, hoje ele é réu e responde processos crimes. Presenciei que o principal problema das drogas inclusive dentro do universo da sagrada ayahuasca se encontra na omissão de algumas linhas ayahuasqueiras antigas, do próprio CONAD e dentro do próprio governo, e por isto lamentosamente de fato eu verti lágrimas em silêncio.
Mas eu não desisti, eu jamais desisti.
Então na sequência do trabalho intenso que vivia, o Astral Superior me mostrou o quanto eu cresci ao longo desta jornada. O tempo passou e hoje tenho tamanho. Jamais desistir do meu direito de amar, me fez crescer e ter o tamanho demonstrado pelas obras que já fiz nesta vida, pois todo homem tem o exato tamanho da obra que fez. Eu jamais abri mão do meu direito de amar, por isto que foi a mim passado o conhecimento completo do processo de 40 dias para o Viver de luz, e não para grupos isolados. Porque o astral superior sabe o que tenho no coração, sabem que podem confiar neste velho índio que tem voltado aqui por vidas sem jamais desistir de amar e que hoje, mesmo que num corpo de branco e tendo pelo no rosto, mesmo que estando já um pouco cansado e machucado após tantas batalhas travadas, me esforçarei ao máximo e além, para testificar o Viver de luz em verdade e glória espalhando-o em benefício único de toda a humanidade.
Eu não desisti, eu jamais abri mão do meu direito de amar.
Irei viver de luz…
Por todos os desligados, por todos os caídos, Por todos os suicidas; por todas as vítimas do ter que perderam a fé.
Irei viver de luz…
Por todo o sofrimento que ao longo de minhas encarnações presenciei a raça do ter causar aos filhos da terra; Por todas as raças indígenas que foram massacradas e despojadas de seu livre arbítrio, de sua cultura livre, de uma forma de vida sem culpa e sem medo, de seu direito de amar.
Irei viver de luz…
Pelos irmãos menores de quatro pernas, pelos irmãos menores alados, pelos irmãos menores que rastejam, pelos irmãos menores que nadam. Por todas as florestas devastadas, por todos os rios assassinados, por toda agressão a Pacha Mama.
Irei viver de luz…
Por todas as vítimas do sistema que confusas se venderam, que desnorteadas se perderam, que desesperançadas desistiram, que sem identidades se traíram, que vazias se frustraram e buscaram fuga na ilusão das drogas.
Irei viver de luz…
Por todos aqueles que recuaram ante a pressão e julgo do sistema em que foram criados e ainda vivem. Que arrancadas de seus centros foram tomadas pelo ódio, revolta e rancor.
Irei viver de luz…
Por todos que almejam a libertação plena de um sistema que só tira porque é tirano; que lhe obriga a uma vida sem sentido; que aponta futilidades como referência de valor humano; que põem grilhões em escravos que pensam ser livres.
Irei viver de luz…
Por todos os pais que tendo as mãos atadas não podem mais educar suas crias; que impotentes assistem os filhos se perderem; que aterrorizados desfazem o lar; por todos os pais que tiveram extirpada a oportunidade de contar belas histórias aos filhos.
Irei viver de luz…
Por todas as vítimas de uma educação fria que cria jovens, privados dos valores que surgem após o respeito; privados do senso de honra e integridade que viriam pelo exemplo de pais mais presentes; Jovens que tiveram extirpada a oportunidade de ouvir de seus pais as belas história que orientam e encaminham.
Irei viver de luz…
Por todos os desesperançados, desanimados, frustrados, infelizes e massacrados pela pestilência do ter que vigora e vitimiza este mundo há milhares de anos;
Irei viver de luz…
Por toda humanidade vítima das condições criadas para impedi-las de ouvir a paz e o silêncio do espírito sendo literalmente consumida e massacrada pelos vícios de um sistema escravo implantado para os retirarem do presente; Por todos os escravos que pensam que são livres e que como marionetes apenas respondem a puxões em cordéis.
Irei viver de luz…
Por todas as vítimas que mentem, que enganam, que corrompem, que traem, no incauto de obter um punhado de dinheiro simplesmente porque perderam seus valores divinos e desconhecem quem são.
Irei viver de luz…
Por todos os homens cegos pelo ter e contaminados pelo sistema que em suas fraquezas optaram pela negligência dos valores humanos e literalmente desconhecem os prazeres simples da vida.
Irei viver de luz…
Por todos os esforçados que mantêm o fogo divino, que conservam vívida esperança no peito, que vivendo o amor têm se doado, que tem se esforçado para a existência de um mundo bem melhor.
Por tudo isto é que irei para o viver de luz definitivamente.
Xamã Gideon dos Lakotas.